8 de jan. de 2009

Avenida Osvaldo Valle Cordeiro


A cidade

Eu continuo por aqui;
Observo os boeiros sujos,
as bocas de lobo cancerosas.
Os barracos são como doentes que insistem em sobreviver,
quase sem sangue nas veias.
As paredes esverdeadas e descascadas
são como a própria existência nossa.
Vejo-as como a pele de um septuagenário
que fica áspera com cada esperança perdida,
lágrima caída, passo dado...
Só creio no que meus olhos vêem,
no que meu corpo sente.
Sentir na pele foi minha única maneira de aprender.
Sou aquele barraco que descasca,
aquela árvore debruçada sobre o muro,
sou como um poste brotando do concreto,
aquele boeiro que transborda
carregado de existência.

Um comentário:

Lucas Fernandes disse...

João,

É um prazer conhecer sua vertente poética. Acompanho há algum tempo desenhos seus no "O Patifúndio", desde os tempos de "Descobri a Pólvora".

Seus traços são firmes como o concreto que citas em teu poema, e ao mesmo tempo, de grande sensibilidade, comum aos grandes artistas (no seu caso, artes no sentido visual e literário).

Descrever São Paulo, vida em chagas e sangue que jorra em sinal de vida, é prova d grande carinho e apreço por este patrimônio nacional.

Mesmo sendo belo-horizontino, vejo em São Paulo uma essência inexplicável, que os faz gostar tanto desta cidade.

Abraços e espero voltar neste endereço, em breve.
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