É uma espécie de trono, saca?
Você senta lá e vê o movimento na rua. Passa muita gente, com pressa, aflita, ouvindo música, com dor de barriga, com fome... vai saber o que se passa na cabeça de cada um.
Na cidade, o número de indivíduos é enorme, mas ao mesmo tempo, mesmo estando no meio da multidão (olho do furacão) você está sozinho. Não há ninguém ao seu lado. Se você deixar de saber que existe, talvez nem esteja mais ali, isso é muito louco... Pra mim, quando estou desenhando, só a forma interessa e não o indivíduo, até porque as pessoas passam rápido, piscou e elas não estão mais ali e não há mais nada além dos gigantes de concreto e ferro, imóveis, eternos enquanto o progresso não resolva substituir tudo por novas e práticas estruturas. A maioria das pessoas tem as caras lavadas feito umas éguas, olhares blasés. Não sei quem estamos querendo enganar. Eu vou enganando com meu caderninho, anotando rabiscos, sincronizando linhas e tentando dar forma a significados.
Passa um profeta, desses estereotipados com placa e bíblia nas mãos, anunciando o fim do mundo, ele grita e descreve todas as desgraças que estão por vir, mas aparentemente ninguém parece ouvi-lo, ele grita mais alto...
Um senhor está reformando um salão comercial pequeno na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, pergunto para ele se posso me sentar na frente do lugar e ele: “Claro, pode ficar tranquilo”. Ele está curioso e vem de minuto em minuto ver o que estou fazendo. Termino o rascunho, ele me informa sobre suas impressões: “Muito bom, tenho um sobrinho que desenha tudo perfeito, sabe? O moleque é danado de bom desenhista!”. Até mais, digo, e sigo meu caminho.
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