Desenho que eu fiz para minha coluna na revista O Patifúndio do grande amigo Michel Niero, grande responsa. Para ler a revista clique aqui.
Este senhor do desenho é o Aldo, velho conhecido da família, violeiro das antigas e eletricista dos bons. A vida inteira andou por esse mundaréu de meu Deus desfazendo gambiarras, diagnosticando fios ruins, descascados, perigosos... Sabe tudo sobre essas coisas de instalações elétricas, o Aldo. Mas esse não é o seu talento, seu dom é outro, isso de ser eletricista é só seu ofício, seu ganha-pão, seu dom surge quando ele empunha a viola e declama versos sertanejos que traz na ponta da língua, desde os tempos de menino. De repente, aquele sujeito pequeno, de ombros caídos, meio tímido se transforma e cresce a olhos vistos, vira um gigante quando entoa suas canções e todos se calam para ouvi-lo. Ele começa declamando os versos iniciais da música "Cabocla Tereza", composta por Raul Torres e João Pacífico:
"Lá no alto da montanha
Numa casinha estranha
Toda feita de sapê
Parei numa noite a cavalo
Pra mór de dois estalos
Que ouvi lá dentro bate
Apeei com muito jeito
Ouvi um gemido perfeito
Uma voz cheia de dor:
‘Vancê, Tereza, descansa
Jurei de fazer a vingança
Pra morte do meu amor’
Pela réstia da janela
Por uma luzinha amarela
De um lampião quase apagando
Vi uma cabocla no chão
E um cabra tinha na mão
Uma arma alumiando
Virei meu cavalo a galope
Risquei de espora e chicote
Sangrei a anca do tar
Desci a montanha abaixo
Galopando meu macho
O seu doutô fui chamar
Vortamo lá pra montanha
Naquela casinha estranha
Eu e mais seu doutô
Topemo o cabra assustado
Que chamou nóis prum lado
E a sua história contou"
Depois ele começa a tocar e cantar. Os olhos marejados, os dele e os daqueles a que o assistem.
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