6 de mai. de 2013

Retratinho



Não.  Eu deixei ela lá. Não tinha o que fazer mais não.


- Você mente e ri - ela falou. - Vou embora. Assim mesmo, na lata, de queixo firme. Hã? Nem precisava dizer que não aguentava mais. Seus olhos diziam. Mas aquela lá não gostava de chorar na frente de ninguém. 



Fui muito burro, essa é a real. O mundo ensina o que a gente não quer ouvir. É triste a partida né? Bagulho chato pracaraí! Saí sem olhar pra trás porque senão não me guentava. Fui pro rumo contrário do dela, praquele lado de lá, sabe? Lá onde fica a fabriquinha de saco plástico que eu trabalhei, lembra? Nem sei porque, mano, tava sem rumo acho. Derrubei seu retratinho pelo caminho... uma judiação.



Quando eu conheci? Conheci ela a milianos, vixe. Ela tinha uns 17 anos e eu uns 18 ou 19. Foi lá na firma, na hora do almoço. É, foi. Depois sentamos na calçada e bebemos café num copo de plástico. Loko lembrar. Parece pouco né? Fomos eternos naquela tarde, mano. Isso vai continuar acontecendo pra sempre. Tá entendendo? Aqui ó, na minha mente. Se liga nas ideia: Dura o quanto tem que durar e depois acaba, assim, que nem um vento varredor. É a vidaaaaaaa, companheiro... É maninho, tem que ter cabeça véi. E eu nem curto ficar lamentando e nem nada, então...



Vamo nessa! Chega de conversero! Que ainda quero encher essa laje é hoje, maninho, e de qualquer jeito.



Ah! Se liga: Beijei ela, pela primeira vez, ali ó, detrás daquele muro escuro caindo aos pedaços.

2 comentários:

Amplexos do Jeosafá disse...

A rua tem sua poeira e sua língua. Às vezes, a segunda lambe a primeira, como neste conto.

Murilo S Romeiro disse...

belo retratinho e conto - parabéns!